Entrar naquele espaço, uma das fábricas abandonadas junto à Gare do Oriente, é enfrentar um labirinto de lixo. Sobem-se as escadas e, de par em par, os escritórios são quartos. Pedro Ribeiro dorme no último andar. Num quarto que lhe “parece uma casa na árvore” em frente a uma entrada sem porta, onde o telhado se enche de água.

“Açoriano”, que pediu anonimato, dorme ali há dois meses, depois de sair da gare, onde dormiu quatro. “Não venham dizer que é melhor a gente não estar na gare”, diz.

Pedro, “Açoriano” e Paulo Amador falam de “uma pressão muito grande” feita sobre as pessoas que dormiam na gare. Não foram expulsos, mas de meia em meia hora eram acordados pelos seguranças do local, Desde 15 de Novembro, estão impedidos de dormir no interior da gare.

Numa noite, era fácil encontrar 58 pessoas a dormir nos bancos do corredor principal da gare. Onde acabavam os pés de um, vinha a cabeça do outro.

Há quase dois meses que ninguém lá dorme. Quando questionados sobre a situação, a PSP e a Infra-estruturas de Portugal (IP), que gere a Gare do Oriente, remeteram para a associação Novos Rostos Novos Desafios, a quem a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o “acompanhamento da população sem-abrigo” na zona do Parque das Nações, no âmbito do Programa Municipal para a Pessoa Sem-Abrigo, com o projecto “Cidade Segura”. A associação tem acordos de intervenção social com a Câmara de Lisboa desde 2003…”

 

In: https://www.publico.pt/2017/01/11/local/noticia/em-mes-e-meio-deixou-de-haver-pessoas-a-dormir-na-gare-do-oriente-intervencao-e-controversa-1757356