Estar com os sem-abrigo no Natal não foi como tinha imaginado e quando voltámos para casa fui dormir na maior tristeza. Acordei a meio da noite e chorei ao me sentir ridícula por querer mudar o mundo.
No dia 25 de Dezembro participei, com o meu marido e um dos meus filhos, de um percurso da comunidade Vida e Paz por Lisboa, para entregar uma merenda a alguns sem-abrigo que habitam nos cantos da nossa Lisboa. Ser sem-abrigo foi a condição da família de Nazaré no dia em que Jesus nasceu – estando sem abrigo, encontraram um cantinho (o estábulo segundo conta a história) onde certamente não cheirava bem, não havia quem os acolhesse, nem condições decentes para passar a noite. A temperatura não seria tão baixa como por cá, mas ainda assim devia estar frio. Depois, não bastando o insólito de toda a situação, tendo em conta que Maria sabia que aquele bébé era o Salvador, apareceram os pastores para os saudar, o depois tudo o resto que conhecemos. (…)
Muitos dos que visitamos até nos desejaram bom Natal. Eram na realidade iguaizinhos a nós naquela noite de dia 25. Vim para casa com um sentimento de vazio porque percebi que as soluções mais fáceis não servem (dar comida, roupa ou dinheiro). Podem resolver o momento mas não reabilitam a pessoa. A Comunidade Vida e Paz tem no seu projecto toda a componente de acolhimento e reabilitação mas o primeiro passo tem que ser de quem precisa e muitos desses, porque perderam a vontade, porque não têm esperança ou porque ganharam vícios, não dão esse primeiro passo. (…)
Rita Fontoura
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