As folhas caídas das árvores, na estação do crepúsculo, são varridas para um grande saco preto. António Conde, o jardineiro da Quinta das Conchas, em Lisboa, limpa o parque como quem asseia uma parte da vida, que ficou lá longe, para poder inaugurar outra etapa, sem gota de álcool nem de droga. Foram anos a fio de consumos. «Não conseguia estar sóbrio.»

Vivia, à época, com a mulher, também toxicodependente, e com os filhos pequenos. Tudo desabou. «Foi cada um para seu lado, começou a faltar o comer para os miú­dos e aquelas coisas todas. Os nossos filhos foram entregues a um dos meus irmãos.»

Na semana em que se celebra o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza é impossível não olhar para as 2051 pessoas que, só em Lisboa, vivem atualmente sem teto, no espaço público, em alojamentos de emergência ou habitações precárias ­– segundo o Núcleo de Planeamento, Intervenção e Acompanhamento a Sem­‑Abrigo (NPISA).

Hoje, com 55 anos, quer começar uma nova fase, depois de viver ao deus­‑dará, vagueando de norte a sul do país, em busca da droga que lhe comandava os destinos. «Andava à procura de tudo o que enchesse a cabeça», desabafa. Durante 17 anos andou por aqui e por ali, sem abrigo para pernoitar.

Dormia, por vezes, em bancos de jardins e acordava, conta, com os pontapés da polícia, que o levava para a esquadra. «Davam­‑me um banho de água fria e depois, às tantas da manhã, lá ia eu por ali fora, no inverno, todo molhado e cheio de frio.»

Texto Sílvia Júlio

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